Pesquisa sobre Alzheimer exige cautela



Revista Radis/Fiocruz nº 167

Pesquisadores da Universidade de Rowen, nos Estados Unidos, desenvolveram um exame de sangue que conseguiu detectar Alzheimer em seus estágios iniciais com quase 100% de precisão.

O teste foi concebido para detectar uma fase precoce da doença chamada Leve Comprometimento Cognitivo de Alzheimer (MCI, na sigla em inglês), e distingui-la de casos similares de declínio mental que são causados por outros fatores, como problemas vasculares, depressão crônica, abuso de álcool e efeitos colaterais de certas drogas, segundo informou o site da universidade (8/6).

De acordo com o Portal R7 (21/6), que repercutiu a notícia, foram recolhidas amostras de sangue de 236 participantes, incluindo 50 que tinham sido diagnosticados com MCI, 50 com doença leve a moderada de Alzheimer, 50 pessoas saudáveis, e o restante tinha sido diagnosticado com doença leve a moderada de Parkinson, uma fase precoce de Parkinson, esclerose múltipla ou câncer de mama.

Os pesquisadores acreditam que essa é a primeira análise de sangue utilizando biomarcadores de autoanticorpos que podem detectar com precisão a doença de Alzheimer em um ponto mais cedo no decurso da doença, quando os tratamentos são mais suscetíveis a serem benéficos — isto é, antes que uma devastação muito grande do cérebro ocorra, registrou o Portal.

Embora reconheça o avanço científico, a neurologista Terce Liana Menezes, coordenadora do ambulatório de Neurologia Cognitiva e Comportamental do HC/UFPE, alerta que os resultados ainda são precoces. “É um teste de marcador sanguíneo e ainda há muito que pesquisar antes de ocorrer a incorporação na prática clínica”, explica.

Em entrevista à Radis, a médica salientou que o teste precisa ser replicado em um número maior de pessoas e em vários países para que se possa estabelecer qual o ponto de corte da normalidade dos exames. Embora garanta que há forte interesse por parte da comunidade cientifica e da população para que sejam dadas respostas sobre as causas da doença, ela entende que é preciso diminuir a expectativa diante de resultados iniciais de pesquisa.

“A comunidade científica e a população querem respostas para a doença. Mas temos que ter cautela, pois há muitas questões éticas envolvidas nesses estudos”, assegura.

Ela pondera que há questões que não podem ser deixadas de lado, como noticiar o diagnóstico em uma fase que a pessoa não tem sintoma ou que repercussões o resultado terá em sua vida. “E se o diagnóstico não se confirmar? Ou se o diagnóstico se confirmar ainda sem perspectiva de cura? Devemos também pensar sobre essas abordagens”, ressalta.