Alerta amarelo

Campanha reforça a importância do diagnóstico precoce das hepatites virais, doenças silenciosas que atingem milhões de pessoas em todo o mundo

Ana Cláudia Peres


Elas atacam o fígado e são capazes de agir silenciosamente por décadas sem a manifestação de sintomas. Se diagnosticadas tardiamente, podem levar a um quadro avançado de cirrose ou câncer. Classificadas como hepatites A, B, C, D (ou Delta) e E, a depender do tipo viral e da estrutura molecular, ainda atingem milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, em 13 anos de assistência no Sistema Único de Saúde (SUS), foram notificados e confirmados 120 mil casos de hepatite do tipo C — cuja forma mais comum de transmissão é a parenteral (exposição da pele diretamente ao sangue, hemoderivados ou instrumento cirúrgico contaminado).

A fim de chamar a atenção para a doença, incentivar o diagnóstico e reforçar a importância da informação no combate a esses agravos, foi instituído o Dia Mundial de Luta contra Hepatites Virais, celebrado a cada 28 de julho. Em 2015, a data marcou o anúncio do protocolo terapêutico assinado pelo Ministério da Saúde, que prevê a oferta de um novo tratamento contra a hepatite C e estará disponível no SUS até dezembro, e o lançamento de campanhas de prevenção às hepatites virais, que incluem incentivo à vacinação contra a hepatite B e à testagem da hepatite C.

A chefe do Ambulatório de Hepatites Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Lia Lewis, informa que a vacina é a principal forma de prevenção contra hepatite B e que é disponibilizada gratuitamente para o grupo de maior vulnerabilidade e para pessoas de até 49 anos. Já a vacinação contra a hepatite A é recomendada somente em situações especiais como pacientes com fibrose cística, transferência de medula óssea e portadores de outras doenças crônicas do fígado. Lia esclarece sobre as características da doença. “As hepatites A e E são contagiosas, de transmissão fecal-oral, por meio do contato entre indivíduos ou por meio de água ou alimentos contaminados”, diz. “Como são agravos que costumam se propagar em regiões sem tratamento de água e esgoto, a prevenção principal é voltada para a melhoria do saneamento básico e dos hábitos de higiene”. Ela acrescenta que, no caso dos vírus A e E, os pacientes muitas vezes não apresentam sintomas e que, quando esses ocorrem, incluem cansaço, tontura, enjoo, vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. “O diagnóstico da doença é realizado por exame de sangue e não existe tratamento específico na fase aguda da infecção. A cura geralmente ocorre de forma espontânea e as recomendações médicas são importantes para evitar quadros graves”, complementa.


Campanhas e testes

Em relação aos outros tipos da doença, Lia informa que, no Brasil, muitos pacientes com hepatite C contraíram a doença através da transfusão de sangue contaminado antes de 1993, época em que não havia triagem do sangue para detectar este vírus — daí a importância da campanha lançada pelo Ministério da Saúde, que incentiva pessoas nessa situação a fazer o teste para hepatite C. Além disso, também é possível a transmissão pelo compartilhamento de seringas no uso de drogas ou de objetos de higiene pessoal, como lâminas de barbear ou alicates de unha. “Raramente, este vírus também pode ser transmitido por relações sexuais sem preservativo”, informa.

Outro foco da campanha é a hepatite tipo B. Tem como público-alvo os jovens e como slogan, “Eu me amo, eu me previno, eu tomo a vacina”. No caso da hepatite B, acrescenta Lia, além da transfusão de sangue contaminado, o vírus é transmitido frequentemente por relações sexuais sem preservativo e da mãe infectada para o filho durante a gestação, o parto ou a amamentação. Segundo a especialista, o diagnóstico destas infecções é feito por meio de exames de sangue específicos e o tratamento, que depende de outras respostas do organismo, pode ser feito por meio de comprimidos. “Para evitar o contágio, a recomendação é usar preservativo em todas as relações sexuais e não compartilhar objetos de uso pessoal como barbeadores e alicates de unha”, aponta.

Já a hepatite D, também chamada de Delta, é mais comum na região amazônica do Brasil. O vírus causador depende da presença do tipo B para infectar uma pessoa, por isso, as suas características gerais são semelhantes. Por se tratar de uma doença silenciosa, Lia diz ainda que é importante informar e sensibilizar a população para a realização dos testes de diagnóstico, principalmente para identificação das hepatites B e C. “O diagnóstico precoce pode evitar a progressão para formas mais graves da doença. Eles podem ser realizados com amostras de soro, plasma ou sangue total, e o paciente tem acesso ao resultado em cerca de 30 minutos”, diz, acrescentando que existe cura para as hepatites virais, mas que a evolução do paciente varia conforme o tipo de vírus. O tipo A, por exemplo, apresenta apenas formas agudas de hepatite, ou seja, o indivíduo pode se recuperar completamente, eliminando o vírus de seu organismo. “A maioria dos casos de hepatite E tem este mesmo perfil, porém já foram identificadas formas crônicas da doença em pacientes transplantados”, diz. “Já os vírus B, C e D podem apresentar tanto formas agudas quanto crônicas de infecção, o que exige um acompanhamento médico em busca do controle da doença, ou seja, o estágio em que o organismo do indivíduo convive com o vírus, sem prejuízos, por conta do uso de medicamentos”, conclui.

Reprodução: Revista Radis 157